Ela estava na beira da piscina de biquini rosa choque, grandes brincos de acrílico e viseira. A boca bem pintada de vermelho, em uma mão um cigarro apagado, provavelmente roubado da carteira do pai e na outra um copo cheio de gelo e detergente vermelho (imitando um copo de campari). Devia ter uns oito ou nove anos nessa época e isso para ela era ser adulta.
Procurava no guarda-roupa algo que se parecesse com as coisas que sua mãe costumava usar. Escondido, se enfiava no banheiro e pintava os olhos e a boca de cores vibrantes. Calçava um dos sapatos da mãe, ainda folgado, mas não tinha problema. Uma bolsa combinando com os sapatos e estava pronta. Fingia que o sofá da sala era o seu carro. Enquanto dirigia tomava conta dos filhos, uma boneca da xuxa daquelas de quase um metro e um boneco do fofão, gritando para que parassem de brigar enquanto ela estava ao volante.
A noite, depois do banho, vestia o roupão, amarrava uma toalha na cabeça e passava uma pasta verde que achara uma vez no banheiro da mãe e que dizia no rótulo ser máscara de tratamento facial. Corria na cozinha e trazia dois pepinos. Deitava na cama com a tv ligada, colocava os pepinos sobre os olhos e ficava lá. Aquilo coçava mas ela nem ligava.
Quase vinte anos depois ela chega na casa da mãe cansada do trabalho. Entra no quarto que costumava ser dela, tira os sapatos e descansa a bolsa no cabideiro. Toma um banho no banheiro que era seu e coloca uma camisola que ainda deixa no seu antigo armário. Corre para o quarto da mãe e deita no seu colo. Passa algumas horas vendo tv deitada enquanto a mãe fala no telefone, antes de voltar para a sua vida de adulta.
Um comentário:
Acontece...
E vai acontecer mil vezes!
A graça é essa!
Beijo
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