terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Ao meio dia é completamente dia.
À meia noite é completamente noite.
No resto do dia existe uma gradação entre as horas claras e escuras, que não são nem completamente dia nem completamente noite. Existem muito mais dessas num dia inteiro.

O branco é luz pura.
O preto é a ausência de luz.
Qualquer coisa entre o preto e o branco pode ser luz ou sombra, iluminar ou escurecer. Existem muito mais variações de luz entre o branco e o preto do que a luz total ou a escuridão total.

Nós temos 3 cores primárias e apenas 3.
Amarelo, vermelho e azul.
Dessas três cores derivam todas as opções infinitas de cor de um arco-iris. Existe uma infinidade de tons e cores e matizes que não podem ser definidas como as três cores primárias.

Já imaginou como ia ser o mundo se ele fosse dual, extremo, sem gradações nem variáveis?
Já imaginou viver num lugar onde não existe o nascer e o por do sol? Aquele momento em que não é dia nem noite, claro nem escuro, com uma infinidade de cores no céu?


quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Era uma vez uma garota e, como todas as garotas, essa era especial. Como todas as garotas ela era única e linda, mas ninguém nunca disse isso pra ela, então ela cresceu achando que era muito menos do que realmente era. Cresceu achando que era feia, incapaz. Cresceu achando que era inferior e que todo seu esforço, toda sua beleza deveria ser validada pelos garotos. Ela cresceu acreditando que eram eles que sabiam das coisas, que eles tinham o poder.

Essa garota cresceu e se tornou uma mulher ainda mais linda e mais especial, mas ainda não sabia disso. Ela havia passado sua vida inteira, até esse momento, usando sua inteligência para enriquecer os homens, sua beleza para encanta-los, seu corpo para lhes dar prazer, sua bondade para cuidar das suas almas. Pq foi esse o papel que ensinaram que deveria ser cumprido. Pq lhe disseram que se ela quisesse ser amada deveria servir aos homens. Quem sabe isso a tornasse especial algum dia.

E ela continuou cuidando de suas casas, suas empresas e seus filhos. Realizando seus desejos. Alimentando suas fantasias de poder e superioridade. Ela continuou servindo pq acreditava que assim, um dia, seria merecedora de todo o amor, carinho e dedicação que havia dispensado aos outros durante a vida.

Um dia essa mulher encontrou uma bruxa. E depois disso a vida dela não foi mais a mesma.
Primeiro a bruxa lhe deu um espelho. E assim ensinou essa menina, garota, agora mulher, a se olhar e se conhecer de verdade. A amar seu corpo, todas as partes. A ver com amor tudo que diziam que era feio. E então ela começou a se achar bonita.

A bruxa então lhe ensinou o que cada parte do seu corpo poderia lhe proporcionar. Força, destreza, prazer. Ela não tinha consciência da complexidade daquele corpo. Ela não conhecia o potencial que ele tinha. E ao descobrir tudo isso ela começou a se sentir forte.

A bruxa lhe trouxe livros. E conversou sobre diversos assuntos, assuntos que antes só diziam respeito aos homens. E elas trocaram ideias. Ela aprendeu muito com a bruxa. E então ela começou a perceber como era inteligente.

Até que um dia a bruxa a chamou para conversar. Contou como estava orgulhosa dela, de suas conquistas. E então contou tudo que havia aprendido com ela no tempo que passaram juntas. Foi aí que ela começou a se sentir especial.

A mulher voltou pra casa diferente nesse dia. E sentiu pena dos homens que dependiam dela pra tudo. Os homens que foram ensinados que, por serem tão especiais, não precisavam aprender a se cuidar. E percebeu que, assim como ela, eles não eram felizes. Não eram felizes pq sabiam que, no fundo, o amor que ela dispensava a eles não era genuíno, era uma obrigação.

Então com tudo que aprendeu com a bruxa e com tudo que aprendeu consigo mesma ela começou a ensinar os homens. E, aos poucos, deixou de  fazer tudo que lhe disseram que faria os homens a amarem. E fazia isso por ela, não por eles. Fazia isso para ser livre.

E os homens estavam ansiosos para aprender pq, mesmo sendo cômodo ter a mulher lá pra fazer tudo por eles, eles perceberam que ela já não os amava da mesma maneira. E eles queriam voltar a ser amados. Então fizeram tudo que ela queria que eles fizessem.

Até que chegou o dia em que eles já sabiam de tudo e não restava mais nada que ela pudesse ensinar a eles. Ela os chamou e contou como estava orgulhosa deles. E eles lhe agradeceram por ela torná-los livres. Nesse dia ela começou a se sentir amada.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Culpa, combustível da vida moderna

Você acorda de manhã e aperta o botão da soneca. Mas você foi dormir cedo, deveria estar bem disposta!! Já não tem TV no quarto, a luz é controlada, nem muito pra o corpo não ter problemas em pegar no sono, nem pouco pra o corpo ir percebendo o dia nascer e acordar melhor. O colchão está dentro dos padrões, os travesseiros novos por causa dos ácaros e muitos pra suportarem braços, coluna e o escambau. Você dormiu bem as 8 horas necessárias de sono, tem um app pra monitorar seus movimentos e saber se o sono estava bom mesmo. Ainda assim acordou sem disposição!!! Culpa!!

Agua com limão antes do café e antes de escovar os dentes, pode danificar o esmalte se for depois. No café da manhã 3 tipos de frutas (vitaminas), tapioca (não tem glúten) e queijo (lactose - culpa!). O café com leite podia ser com óleo de coco mas não desce esse negócio (culpa). Toma todas as capsulas de antes, durante e depois das refeições. Pega o almoço que agora você cozinha pq assim sabe o que está comendo. Sai de casa correndo pra não chegar atrasada. Na verdade você sempre tenta sair uns 10 minutos antes por causa do transito, mas nem sempre dá né? A culpa de chagar atrasada, mesmo que de vez em quando, é grande, mesmo não saindo para o almoço, mesmo saindo depois do horário.

Tem aula hoje. Você está cansada, o dia foi puxado. Não deu pra dar atenção pra todo mundo na hora que eles precisavam, culpa de não dar conta. Mesmo você sabendo que estão te perguntando  só pra receber um pouco de atenção. Culpa por não dar a atenção que os outros precisam quando eles precisam. Você tenta responder todos as mensagens mas nem sempre dá, as vezes demora, culpa pq você demorou de dar aquele feed back pro cliente chato que de alguma maneira arrumou o seu celular e não tem hora pra te mandar mensagem. Culpa pq vc deveria ter lembrado que o sistema não está funcionando direito e na hora de fazer alguma solicitação deveria ter mandado pelo sistema, pelo email e ainda pentelhado o supervisor, just in case. Você vai pra aula querendo ir pra casa dormir. E assiste a aula pq está pagando por isso, não pq está aproveitando isso. Culpa por gastar tanto dinheiro e não estar aproveitando as aulas como deveria.

No outro dia tem academia!!! Aí você ouve da sua amiga: "Queria ter a sua disposição de ir pra academia nesse frio!" Não é disposição, é culpa. Pq quando aquela calça aperta vc lembra de todos os dias que faltou. Pq quando olha no espelho e acha que a bunda tá mole, lembra dos agachamentos não feitos. Pq quando não recebe aquela mensagem que estava esperando de volta, já pensa que é por causa da pancinha que se instalou por causa da esteira que você anda com preguiça de fazer. Culpa por não ser tão magra quanto as outras no Instagram. Culpa pq mesmo quando não está no controle, de alguma maneira, você tem alguma culpa.

Se você fosse perfeita, não sentiria culpa. Nunca!!! Mas você não é e se sente culpada. E a culpa te move, te faz chegar no horário, comer bem, ir pra academia, estudar, cuidar da casa, deixar tudo arrumado. Mas não é o suficiente, não ainda. Você ainda tá longe do seu objetivo. Vamos lá, vamos alimentar a culpa. E a culpa alimenta você. Será que um dia você consegue viver sem ela?

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Junho começou cheio de desafios e, ao mesmo tempo, com duas emoções fortes e conflitantes. Se deparar com mudanças pode deixar a gente amedrontado. Pensar no futuro sem certezas é inquietante. Gera uma ansiedade meio do mal, insegurança. Por outro lado, a quantidade de oportunidades que uma mudança traz é imensa. A possibilidade de trilhar novos caminhos é sempre refrescante quando a vida está meio morna. 

E assim começou o que seria o meu inferno astral. Um caminho aberto pela frente e nenhuma idéia do que fazer como ele. Milhões de possibilidades e muitas duvidas. A gente cresce sendo cobrado por resultados, certezas, carreira, progresso, realização, e quando para no meio ou não consegue se enxergar como vencedor nessa corrida maluca da vida, pode bater uma frustração. Ou não.

Me esforcei pra não cair no buraco negro da ansiedade, que muitas vezes já me pegou de jeito. Viver é a coisa mais difícil que existe e ninguém sabe direito como fazer isso. Então a gente precisa escolher como lidar com esse presente, as vezes divino as vezes de grego, que é a vida. Decidi viver hoje, não com a irresponsabilidade de não pensar no amanhã, mas com o comprometimento de aproveitar o que eu tenho agora me preparando para estar mais forte quando o amanhã chegar. 

O que para muitos deveria ser o período de inferno astral foi, pra mim, um mês de uma incrível leveza e felicidade. Uma paz que não sentia há muito tempo. A esperança de um ano novo que começa, um novo ciclo que trará muito coisas, umas boas e outras ruins, mas que será vivido intensamente. Que venha o ano 36! 

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Sobre se acostumar

Dizem que o tempo cura tudo. Eu tento acreditar nisso, eu realmente quero acreditar nisso, mas não consigo. Posso dizer que o tempo faz a gente se acostumar, isso faz.

A primeira vez pra tudo é um mar de descobertas. Descobertas boas e ruins. A gente aprende a lidar com as novidades até elas não serem mais tão novas. Aprende a conviver com situações, pessoas e sentimentos que uma vez nos foram alheios mas que agora nos acompanham. E a gente acostuma. A gente sempre acaba se acostumando com qualquer coisa, boa ou ruim. E a partir do momento que elas começam a fazer parte da nossa vida, a gente vai parando de prestar atenção que elas existem.

Aí tem aqueles dias que chegam. As vezes são dias específicos mas na maioria das vezes é apenas um dia ordinário. Um dia comum quado você acorda e aquilo com o que você achava que tinha se acostumado começa a incomodar. Como um sapato ou uma roupa apertada que você usa sempre mas em um determinado momento incomoda tanto que você só quer tirar o mais rápido possível. Essas marcas que acontecem na nossa vida não podem ser tiradas e jogadas pra cima. Elas estão lá, como uma tatuagem na pele que por mais que a gente tente apagar, sempre vai estar naquele lugar. Como uma cicatriz que a gente só lembra num dia frio quando dói. Mas aí quando dói não tem como ignorar. A gente finge que ignora mas não consegue.

O bom é que com o tempo até com isso a gente aprende a lidar. E com o tempo essas máculas viram sentimentos de estimação. E a gente se acostuma a não estar acostumado com tudo, se é que isso faz sentido.