terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Homem

Desde pequena meu pai sempre viajou muito. Vinha em casa nos fins de semana, as vezes só de quinze em quinze dias. Lembro de uma época em que passou uns dois meses no Pantanal pesquisando e a gente só falava com ele pelo rádio.

Nesse tempo, quando qualquer coisa quebrava em casa, mesmo que fosse algo bem simples, minha mãe dizia: "Tem que chamar o homem pra consertar". E essa sempre foi a frase para coisas que não podiamos fazer, afinal ficávamos em casa eu, ela e meus dois irmãos mais novos, além da babá. Uma ou duas vezes na semana ia um jardineiro, que podia fazer as vezes do "homem", a depender do serviço.

Nunca me conformei com a idéia de "chamar o homem". Demorava, até achar um homem pra fazer isso ou até meu pai voltar de viagem a gente tinha que ficar sem tomar banho quente, ver tv, fechar ou abrir uma porta ou janela e até sem comer alguma coisa gostosa dentro de um vidro impossível de abrir.

Comecei então a bisbilhotar sempre que alguém fazia algum reparo em casa. Olhava tudo. Desmontava qualquer coisa quebrada. Logo me especializei em trocar tomadas de fio. Tá, não é a coisa mais difícil do mundo, mas pra uma criança de seis ou sete anos é um grande passo. Era boa com manuais de uso de qualquer eletrodoméstico ou eletrônico. Aprendi a usar os ferramentas na horta e no jardim. Alguns truques na cozinha faziam o jeito substituir a força na hora de abrir as embalagens mais resistentes.

Com o tempo fiquei mais ousada. Hoje em dia troco resistência, faço pequenos consertos elétricos e hidráulicos, reboco, passo massa corrida, lixo e pinto paredes para depois furá-las para pendurar qualquer tipo de coisa que eu quiser. Monto e até faço móveis com algumas ferramentas básicas.

Há alguns dias estava em casa com uma peça de pendurar rede que me pai me deu. Uma tecnologia que ainda não conhecia, bastante simples até, que deixa o pino escondido quando você não está usando. Para isso, no entanto, é preciso quebrar a parede e chumbar a peça com cimento, dar acabamento e tudo mais. Aí alguém falou: "Pra instalar essa, só chamando o homem!" E meu irmão logo respondeu: "Quem precisa do homem quando tem Luiza em casa?"

Um comentário:

Paloma disse...

Eu te invejo! Muito! O sonho de meu pai era que eu fosse assim, que eu prestasse atenção enquanto ele fazia as coisas de casa, pra aprender e poder montar, desmontar e consertar qualquer coisa - mesmo que ele nunca conseguisse de primeira.
Agora estou doida para pintar as paredes e mudar as coisas da casa.. mas do jeito que sou, morro de medo de fazer lambança e dar merda... quer vir pra cá? ofereço hospedagem em troca dos seus serviços! rs
beijinhos